Este blog é um esforço civilizatório pelo bom gosto.

domingo, 7 de outubro de 2012

Mal gosto

"... a poesia mal feita, a música vulgar, o quadro lacrimogêneo são imorais, porque, embora indiretamente, secundam, lisonjeiam, favorecem a preguiça intelectual, o mal gosto, o mais rançoso sentimentalismo das multidões, já tão prejudicadas por vícios dessa ordem; e ninguém poderá dizer até que ponto esses venenos sutis e insinuantes enfraquecem a psicologia e, portanto, a alma de um povo." (Mattero Marangoni, Aprenda a Ver, cap. XI)

sábado, 21 de julho de 2012

Ouça! Ouça!


http://www.youtube.com/watch?v=PG6Y-6cWVno

- Quem está tocando?
- O piano?
- Não, a música toda.
- Várias pessoas….. É um concerto, não é?. Mas quem importa mesmo é o pianista.
- Por quê?
- Ele é o protagonista. A música toda é feita para o piano. Todo resto é um pano de fundo, um complemento, uma extensão do que acontece com o piano.
- Que viagem.
- Acho que um “concerto para piano” significa mais ou menos isso, não?
- De quem é?
- Rachmaninoff. Descobri sem querer, e essa música me atraiu muito. Parece uma história. Como se fosse uma trilha sonora.
- Como assim?
- Se você ouvir e se deixar viajar, dá pra inventar um enredo. Como se a música fosse feita para um enredo de um filme. Ouça. Eu imagino um esqueleto de história sempre que ouço.
- Volte a música para o começo, então. Não vi nada até a agora.
- Ouça! Ouça! É um concerto para piano. A música começa com um piano solo, por meio minuto. Começa com o piano dando passos pesados, como que entrando em cena lentamente. O som dos passos vão ficando mais altos conforme o protagonista (o piano) dominam a cena. Surgem agora [29s] as cordas, que parecem começar a levar consigo o piano; o nosso personagem vai perdendo espaço durante o próximo minuto. Ele se deixa levar, como se sua memória se perdesse. Parece um flashback. É um flashback: o protagonista está recordando algo. Ele fica quase mudo, perdido em lembranças.
- De quê?
- Shh! Ouça! A melodia indica o que estaria dominando sua mente a ponto de ele se esquecer de si. É uma melodia tranquila, fluida, quase feliz. Um momento de ingenuidade no passado (na infância?) do personagem. Agora [1min33] o piano volta, ele está narrando a sua lembrança. Meio minuto depois [1min44], há um abrupto crescendo, seguido de uma interrupção brusca. O que será isso? É como se ele tivesse acordado para a realidade de repente.
- E volta a melodia tranquila de antes.
- Sim. O piano segue narrando sua história. Narrando "ativamente", por assim dizer. Não está mais perdido em lembranças.  Mas agora o personagem não soa um pouco triste? Ele parece nostálgico. De certo, o presente o faz ter saudade do que ele viveu antes. As cordas e os sopros acentuam essa melancolia. Ouça [3min42]: o piano vai diminuindo a velocidade da narração. E agora aumenta de novo [4min]; ele fica agitado. Algo mudou. Entram [4min8] os metais em um rápido prenúncio. Como um mau agouro, não?  Ouça agora [4min20]! Começa o que, pra mim, é o tema central da “história”.
- Onde?
- Nas cordas! Shh! Surge, aos poucos, um reviravolta que vai tomando corpo. As cordam começam a carregar o piano de um modo diferente, inexorável como no começo da música. Ouça a flauta [4min25 e 4min34]… A flauta parece pressagiar algo ruim. A melodia das cordas puxam o protagonista cada vez mais. Ele está atordoado e tenta, sem sucesso, conter esse arrastamento. Parece pedir socorro [4min42]. Note a angústia do piano aumentando [4min54]. As cordas o carregam sem parar, mas não o arrastam. É como se ele mesmo não conseguisse conter a si mesmo. Que situação é essa em que ele se encontra? Ouça o desespero [5min30]! A voz do piano aparece entrecortada no meio das cordas que o carregam, como se estivesse se afogando. Depois das rápidas notas dos metais distantes (quem é esse personagem de mau agouro?) [5min43], o piano reaparece no ápice de sua angústia [5min53]. Ele tenta gritar, mas os gritos são abafados. Ele parece se debater. No meio do turbilhão, contudo, ele se acalma [6min15]. O pior passou. O piano agora apenas se lamenta. Com alguma dificuldade, ele recolhe os cacos. Ele chora. Ouça [7min5s]: não é o piano soluçando? Entra o sopro [7min12s]: um outro personagem (sua consciência?), o oposto dos metais. O sopro indica o caminho para longe daquela situação a que ele se deixou arrastar. E o piano compreende [7min38]! Ouça! As cordas acompanham o piano se reerguendo. A melodia se torna doce novamente, é uma oportunidade de recomeço!
- E essa “marcha” [8min44]?
- Marcha? Ah, sim, nas cordas. Acompanhado de um lamento nas cordas também. Não sei. É o desfecho. Um crescendo rápido. Como se o protagonista fosse cair no mesmo erro de antes. Ao final, talvez, ele recai nesse erro que o arrastou para algo que fugiu ao seu controle. Talvez seja isso. O problema é que aqui acaba o movimento.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

The way Wall Street looks tonight


O filme Wall Street (1987) abre sua cena inicial com uma aérea de Nova Iorque e a música do Sinatra que transcrevo aqui. A combinação é perfeita, pena que o filme deixe tanto a desejar e não passe de um bobo clichê.





Someday
When I'm awfully low
When the world is cold
I will feel a glow just thinking of you
And the way you look tonight

Yes you're lovely
With your smile so warm
And your cheeks so soft
There is nothing for me but to love you
And the way you look tonight

With each word your tenderness grows
Tearing my fear apart
And that laugh
Wrinkles your nose
Touches my foolish heart

Lovely
Never ever change
Keep that breathless charm
Won't you please arrange it
Cause I love you
Just the way you look tonight

And that laugh
That wrinkles your nose
It touches my foolish heart

Lovely
Don't you ever change
Keep that breathless charm
Won't you please arrange it
Cause I love you
Just the way you look tonight

Hmm...
Hmm...
Just the way you look tonight

sábado, 2 de outubro de 2010

NOSSO VOTO!


Eleição também é classe!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Harmonização

Após longo jejum no blog, me proponho a elencar sugestões de harmonização.

Antes da primeira tentativa, contudo, convém delinear a proposta. Harmonizar significa conciliar, colocar de acordo duas ou mais coisas. Ou, ainda, combinar, conjugar. Ou, por fim, equilibrar, simetrizar.

Todos já ouviram falar da essencial arte de harmonizar vinhos e comidas. Trata-se de ‘arte’, segundo vejo, porque a harmonização varia com o paladar e o olfato de cada um, de modo que não se aprende a harmonizar vinhos (ou outras bebidas) e comidas; mas tenta-se, equivoca-se, acerta-se e, com o tempo, a tendência é acertar cada vez mais. E é ‘essencial’, porque vinho e comida em desarmonia tornam-se ou um desprazer ou, no mínino, um desperdício de tempo e dinheiro.

Minha proposta não é sugerir combinações entre esta casta e aquele prato, mas algo mais ambicioso. Tentarei inventar, com base em experiências sensoriais de finais de semana, um todo harmonizado. Mantendo-me em níveis mais gerais, a fim de evitar propostas demasiado enfadonhas, indicarei momento, ambientação, música, vinho e, talvez, alguma comida. Espero, após esse exercício, poder, eventualmente acertar alguma combinação.


Tentativa n° 1 de harmonização:

Visita a uma casa de amigos, informal, sem motivação aparente além da vontade de estar lá. Parece-me que em um clima de descontração, pessoas conversando sentadas em puffs ou mesmo no tapete, em uma noite levemente fria, combina com um vinho tinto leve e de fácil paladar, i.e, agradável sem ser muito complexo. Uma excelente sugestão é o Woodbrigde, de Robert Mondavi, um cabernet sauvignon que tive o prazer de conhecer com os outros Chatêaux. Como música de fundo, baixa para não competir com o tom de voz das pessoas, indico, entre centenas de outras possibilidades, a sinfonia n° 1 de Haydn, a qual me parece ter as mesmas características do cabernet sauvignon do Mondavi.

Não tive, ainda, oportunidade de testar essa combinação. Alguém se habilita?

domingo, 15 de agosto de 2010

Sobre o dandismo: Tom Wolfe

Tom Wolfe nasceu em Richmond, Virginia. Tom Wolfe foi criado em uma família presbiteriana.
Tom Wolfe é filho de pais cultos e ricos, um bocado ricos.

Tom Wolfe é um WASP, um bom WASP.








Thomas Kennerly Wolfe Jr. nasceu em 02 de março de 1931. Ficou conhecido por ter encabeçado o movimento do New Journalism nos anos 1960 e 1970. Crítico afiado do falso-moralismo que permeia sua sociedade, Wolfe não poupa os hipócritas à direita e esquerda. Em obras como Escândalo no Forte Bragg ele expôs o ridículo dos brucutus brancos do sul e, ao mesmo tempo, deu entrevista ao New York Times defendendo o voto no Presidente George W. Bush e apontando o dedo nas hipocrisias e patrulhamento da intelectualidade Democrata.


Mas não vamos tratar aqui das habilidades intelectuais do nosso vencedor do American Book Award. Falemos de algo mais. Falemos de dandismo.
Curioso saber que o ícone do dandismo aderiu ao terno branco como que por um acidente. Em 1962 ele havia comprado o terno p/ utilizá-lo no verão. O que ocorreu foi que o material era tão pesado que acabou sendo obrigado a usá-lo durante o inverno. A iniciativa gerou um falatório tão grande que o autor decidiu aderir ao novo estilo. Daí tiramos uma lição: um dândi não pode sê-lo sem querer fazer o óbvio: chamar atenção.


Tem gente que crê que qualquer coisa que não seja discreta é deselegante, em especial quando falamos de homens. Acho limitado demais, medíocre demais.
Se a inteligência de Wolfe não é discreta, mas apurada ao ponto de ser luminosa, por qual razão suas roupas deveriam seguir destino diferente?


Afinal, você não precisa ser uma personagem de Fogueira das Vaidades para ter seu bom senso estético.


sábado, 31 de julho de 2010

Sobre o dandismo - Parte I





One who studies ostentatiously to dress fashionably and elegantly; a fop, an exquisite."

Eis a definição disponível no Oxford English Dictionary para "dândi". Essa figura, que se veste com esmero apuradíssimo, costuma ter hobbies de origem aristocrática, linguagem e modos refinados e pratica o que podemos chamar de culto aoSelf.

O dandismo tem origem na Europa do fim do século XVIII e início do XIX. A postura de um dândi sempre gerou controvérsia a respeito do significado de sê-lo. Afinal, seria apenas uma manifestação rasa de um espírito esnobe ou mais uma manifestação cultural com algum valor além de puro materialismo?



A definição de Baudelaire parece-me a mais justa (perfeita, para ser bem claro):

"Dandyism in certain respects comes close to spirituality and to stoicism" e "These beings have no other status, but that of cultivating the idea of beauty in their own persons, of satisfying their passions, of feeling and thinking .... Contrary to what many thoughtless people seem to believe, dandyism is not even an excessive delight in clothes and material elegance.For the perfect dandy, these things are no more than the symbol of the aristocratic superiority of his mind."


As vestimentas devem ser a manifestação do nosso estado de espírito. Baudelaire estava muito certo e vou tratar um pouco melhor disso no próximo post: Sobre o Dandismo - Tom Wolfe.